Gosto de ir ao cinema sozinho. Muitos acham estranho, acham impensável. Já falei com pessoas que simplesmente não conseguem conceber a ideia de irem sozinhas ao cinema. Eu, muitas vezes, até prefiro. Você vai na sessão que quer, o dia que quer, escolhe a sua poltrona e fica até os créditos finais. Não é interrompido, e, antigamente, inclusive, quando gostava muito do filme, eu ficava para a próxima sessão (nos cinemas de shopping, hoje isso é impossível). Lembro de ter visto A Lista de Schindler, Pulp Fiction e diversos outros filmes dessa maneira: duas vezes seguidas.
Talvez, essa mania de ver filmes sozinho, tenha a ver com uma coisa: eu tenho pensamentos suicidas desde os 9 anos de idade. Acho que isso tem haver com o meu ateísmo; sou ateu mais ou menos desde essa época. Não acreditar em Deus, só aumentou minhas dúvidas existenciais e, se isso incomoda um adulto, em uma criança, o estrago é maior ainda. Acho que nessa época também começa a minha mania de ser recluso, a minha timidez e principalmente, meu jeito antissocial de ser. Minha avó, com quem eu morava, dizia que eu era estranho porque lia demais. Meu ateísmo, minha solidão, eram culpa dos livros. Ela estava certa. E também estava errada. Porque, se eles eram em parte culpados pelo meu comportamento, também eram os meus melhores amigos. Foram os livros, e depois, os filmes, meus melhores e mais sinceros amigos. Eles sempre falaram muito sobre mim e me ajudaram a ver coisas que muitas vezes eu não queria ver. Foram a minha formação moral, religiosa, cientifica e estética. E sempre me fizeram companhia. Mesmo nas piores hora. Eles nunca reclamaram do meu mau humor, nem me cobraram nada que eu não quisesse ou não pudesse fazer. Quando os pensamentos suicidas ficavam muito fortes, era nos filmes que eu pensava: aos 10,12 anos, pensava, “quero morrer; qual o sentido de continuar vivo? Por quê?” e sempre me vinha a cabeça um livro que ainda precisava ler, ou um filme (ou muitos) que ainda não tinha visto. Hoje, quando estou deprimido, é com eles que eu vou tirar um tempo; não te deixam sozinho em um domingo de sol que você está triste pra sair de casa; nem se mostram de má vontade, nem dão desculpas pra não ficar contigo. Por mais que você os abandone, quando volta, ou quando quer vê-los, sempre estão lá. E quando são realmente bons, sempre te fazem um bem, de forma diferente a cada época da sua vida. Eu fico muito feliz nas épocas em que a minha única paixão, minha única vontade se restringe a eles. Sonho ainda com o dia em que vou conseguir viver só com eles; não ter mais nenhum outro desejo, nenhuma outra saudade ou vontade. Acho que alguns dirão que estou sozinho. Mas, no final das contas, sempre estamos sós. E quanto mais sós estamos, melhor a companhia dos filmes. E dos livros.